segunda-feira, agosto 15, 2016

Re-descoberta

Sinto que voltei a ser eu.
As minhas tatuagens lunáticas nunca estiveram tão visíveis, mesmo por baixo da roupa. Deixei de as esconder.
As minhas convicções políticas, religiosas e futebolísticas têm agora uma voz mais grave e sonante. Deixei de me calar.
Digo mais "sim's" a pessoas. Re-descobri que existiam.
Danço até ser dia. Deixei de me cansar.
Mais tempo para fazer aquilo de que gosto. Mais tempo para fugir daquilo a que me recuso. Estou longe daquele "algo-que-não-sabemos-bem-o-que-é-só-os-outros-que-nos-mudaram-é-que-sabem", que guardo num rascunho de Fevereiro, para não mais me esquecer de não deixar de ser quem sou.
Corro desenfreadamente atrás dos sonhos. Ignoro os projectos. É assim que deve ser? Não sei. Mas é este não sei que dá este poder de liberdade e de criatividade para não fazer planos como nunca os fiz.
E é tão bom voltar a ser eu.

sexta-feira, junho 10, 2016

Vida em suspenso

Somos tão diferentes como a posição do guardanapo na mesa. Mas até isso é engraçado, a forma como fico atrapalhada sem saber o que fazer com o guardanapo em cada situação.
O que seria se fôssemos iguais? Nunca viamos filmes, gritaríamos os dois no trânsito até algum ficar sem voz, discutíamos mais, ríamos-nos menos.
Eu sou a mulher que trabalha num mercado duvidoso, que não segue a religião cristã, livre de preconceitos, de regras, daquilo que os outros dizem e não dizem. Isso sou eu aqui e agora.
Ele é o homem cristão, conservador, que segue a linha da regra e das aparências. Isso é o que ele é aqui e agora. Mas nada disto importa se não houver amor. Se existe, gosta-se, vive-se, tolera-se, respeita-se, cede-se. Já cedemos os dois em tanta coisa. Porque ninguém pode viver feliz se não gostar.

domingo, fevereiro 14, 2016

Ser Feliz

Há uns dias enviaram-me um texto escrito com a definição de felicidade. Ser feliz é muito diferente de pessoa para pessoa, de sítio para sítio, de dia para dia. A minha noção de felicidade há dez anos é muito diferente da que é agora. E seria muito diferente se eu tivesse conhecido outras pessoas ou se tivesse nascido noutro país. Por isso o que direi agora será com certeza diferente do que eu vou dizer amanhã se alguém me perguntar. Ser feliz para mim, aqui e agora, é saber que as pessoas de quem eu gosto são felizes; as outras pouco me importa. É viajar, passear e jantar fora. É ser reconhecida no trabalho. É ver crianças a rir. É ver filmes e séries. É tirar fotografias. É orgulhar-me de mim mesma e dos outros que me são próximos. É olhar-me ao espelho e ver-me bonita. É ter roupa nova que me fica bem. É saber responder às perguntas de cultura geral. É não perder pessoas. É passar tempo com as pessoas de quem gosto. É saber que posso viver mais. É conhecer pessoas interessantes. É tudo isto ao mesmo tempo e no mesmo sítio.
Eu sou quem eu sou. Tenho péssimo sentido de orientação porque não memorizo lugares, mas decoro caras, faces de pessoas. Não sou capaz de as desenhar, apenas de as trazer para os meus sonhos vagos e alucinantes. Não sou arrumada, nem gosto de limpar mesmo quando novelos de cotão se juntam atrás das portas. Sou preguiçosa. Consigo passar horas a fio na cama ou no sofá a passar o tempo e invento para mim as mais farrapadas desculpas para não fazer algo a que poderei ser obrigada a fazer. Masco pastilha de boca aberta, porque preciso do orifício atrás da língua para poder passar o ar. Sou sensível, consigo chorar em qualquer altura do dia. Não gosto de falar para grandes multidões. Prefiro ficar a olhar para os gestos e reacções que as pessoas têm quando me vêm. Adoro ver pessoas, e imaginar a vida que essas pessoas podem estar a ter. Sou boa a defini-las. E aquilo que faz uma pessoa interessante é o que ela viveu, não o que ela é.No geral não gosto de falar, é um desafio criar conversa com alguém que acabei de conhecer ou mesmo com alguém que conheço há mais do que cinco minutos. Dizem que quando conhecemos bem uma pessoa, quando estamos bem com essa pessoa, é porque conseguimos estar muito tempo em silêncio sem isso parecer constrangedor. E eu acredito nessa teoria. Prefiro ficar calada a falar sobre o tempo ou sobre temas gerais que nada importam e que não vão fazer mudar a minha opinião sobre alguém que acabo de conhecer. Não gosto de touradas e não consigo cozinhar carne que pareça carne, peixe que pareça peixe. Prefiro ficar na ignorância do que aperceber-me de que estou a comer algo que já foi vivo antes e que foi morto para que eu pudesse receber amigos para um jantar na minha casa. Não tenho muitos amigos, mas os que tenho são meus até eu deixar de existir. Tenho uma família estranha, que abafa problemas e dramas, e com a qual não me identifico. Mas sofro por eles quando tenho de sofrer. Preciso de me embrenhar em programas culturais, tal como às vezes preciso de espirrar para expelir algo que me está a incomodar o nariz. Não gosto de política. Não do conteúdo que se discute porque se não tivesse interesse não tinha tirado um curso de gestão, mas sim das discussões aborrecidas de pessoas enlouquecidas pela posse de poder que ocupam a actualidade nacional. Prefiro ver programas de viagens pelos quais sou apaixonada ou filmes e séries com pontuação superior a sete no imdb. Não tenho nenhum ídolo, mas tenho algumas pessoas que respeito. Não dou demasiada importância ao trabalho, porque para mim é apenas uma fonte de rendimento para poder fazer as coisas que realmente me dão prazer. Se tivesse de escolher entre pessoas e trabalho, o último nunca seria uma opção. Não sou praticante de nenhuma religião. Não creio em ninguém para guiar a minha existência e a minha forma de pensar. Porque eu defini a minha. Eu sou quem eu sou.

domingo, agosto 16, 2015

Adormeci a pensar na forma como ajudar alguém a sentir-se bem com o facto de estar sozinho. E acordei a pensar nisso. Falei até. Percebo o que é estar sozinho. Ser convidado para eventos para os quais sou o número ímpar. Querer viajar, ir a concertos, cinema ou passear, mas não ter companhia. Ir ao supermercado a pensar sempre no número um. Não é fácil. Mais difícil ainda é pensar nisso no longo prazo. Os planos de vida que fazemos e que podem ser arruinados. E se eu continuo assim para sempre? E se eu nunca encontrar ninguém? E se nunca ninguém gostar de mim de modo a querer estar comigo durante muito tempo? Alguém me vai conseguir aturar? O problema sou eu? Que tenho de mudar? Muitas perguntas sem resposta. Muitas tentativas de olhar para a nossa situação de diferentes perspectivas até encontrar uma que nos deixe confortáveis. Mas o que é estar sozinho? "É não ter namorado". E os teus amigos? "Não é a mesma coisa". Mas e queres um namorado qualquer? "Não, quero um que me dê atenção". E o que é ter atenção? "É ter um namorado ao meu lado a dar-me carinho" Os teus pais e amigos não te dão carinho? "Dão, mas não é a mesma coisa." O que tem então de diferente? "Hum, não sei explicar." Porquê? "Não sei, é diferente. Não são os mesmos tipos de afectos." E se tiveres um namorado vais ter sempre afecto? "Talvez não, mas quando precisar sim". Tens a certeza? E se não tiveres? Há sempre momentos em que estamos sozinhos. Mesmo os que vivem a sua vida ao lado de outras pessoas têm momentos de solidão. Em que não conseguem ir ao cinema quando querem. Em que põem em causa os planos futuros que escreveram aquando do casamento. Que não sabem se amanhã vão estar também eles sozinhos. A única coisa que temos de encontrar em nós ou na nossa vida é algo que nos dê a mesma alegria do que estar com alguém. É como se tivessemos um pote de alegria que necessita estar cheio para sermos felizes. Mas nem toda a gente o consegue encher da mesma forma, com as mesmas coisas e no mesmo período de tempo. Nem talvez na sua totalidade durante toda a sua vida. O que te faz feliz para além de ter alguém? "Cantar, dançar." E que mais? "Estar com os amigos." Estás a fazer isso tudo? "Nem por isso." Porquê? Um dia quando tiveres alguém terás de repartir o teu pote de alegria com tudo o resto que está lá. Estás disposto a abdicar de algum deles agora? "Não". Então aproveita agora. 

domingo, abril 06, 2014

Take II

E voltou a acontecer. Tenho sempre a ingénua esperança de que as mesmas cenas não se repetem. Que se entalo um dedo numa porta de um carro e me magoo, não voltarei a deixar lá as mãos quando o resto do corpo já saiu. Que se perco alguma coisa e não encontro, não voltarei a abandoná-la. Não sei porquê, mas as minhas cenas repetem-se. Talvez por ser parte de mim, talvez por ser parte do meu filme. Eu sou assim. Não sou capaz de gostar à primeira, nem à segunda, nem à terceira vista. Não me apaixonei da primeira vez que vi o meu volkwagen preto que estranhamente desapareceu numa noite do clássico Benfica-Sporting. Não me apaixonei a primeira vez que vi a minha casa onde moro em Lisboa. Não me apaixonei por Madrid a primeira vez em que passei de carro por avenidas de casas cor de tijolo a caminho de Alicante. Não me apaixonei a primeira vez que conheci os meus amigos ou outras pessoas importantes da minha vida. Mas por todos eles eu me apaixonei um dia.

Relembro-me do dia em que escrevi o texto "Branco no Branco" e voltei a sentir o mesmo. O dia após aquele em que chorei à porta da discoteca agarrada a um amigo mentindo serem saudades de casa, em que me rebentou o lábio cuja ferida se prolongou por mais dois meses por furiosamente insistir em colocar álcool, em que o meu colega de casa se assustou pela primeira e última vez com a cor da minha cara e o vermelho dos meus olhos quando cheguei desnorteada às 8h da manhã. Esta semana voltei a sentir o mesmo. Aquela dor no coração, aquele soco no estômago, aquela sensação de traição não traída, aquele sentimento de impotência. Aquela vontade de mudar a vida, de fugir, de me isolar. Foi o dia em que vomitei após ter bebido um chá de camomila, em que vagueei por Lisboa sem sentido num dia de trovada, em que pedi a um táxi para me deixar a meio caminho por não ter dinheiro suficiente, em que tremi de frio durante toda a noite com o estômago vazio e os olhos inchados. Eu sou assim. Talvez por ser parte de mim, talvez por ser parte do meu filme. 

sexta-feira, março 07, 2014

Bastava que dissesse: não gosto disto em ti. Discutiríamos. Provavelmente horas a fio. Se calhar ficaria amuada porque o orgulho consome-nos. Ou se calhar não. Se calhar tentaria mudar, se achasse isso importante. Mas nunca o disse. E continuávamos a fingir. A fingir que os problemas não existem.
Bastava que dissesse: tu tens razão. E eu aceitaria. Acreditaria que pudesse mudar, porque as pessoas também mudam. Mas isso não aconteceu. Tudo ficou igual.
Bastava que dissesse: mudo de ideias. E eu perdoava. Não cometeria os mesmos erros e faria tudo de forma diferente. Mas não quis. Não mudou. Manteve a sua palavra. Achou que o que fez foi o melhor. Eu duvido.
Bastava que houvesse sinceridade. 

Re-descoberta

Sinto que voltei a ser eu. As minhas tatuagens lunáticas nunca estiveram tão visíveis, mesmo por baixo da roupa. Deixei de as esconder. As...