domingo, fevereiro 14, 2016

Eu sou quem eu sou. Tenho péssimo sentido de orientação porque não memorizo lugares, mas decoro caras, faces de pessoas. Não sou capaz de as desenhar, apenas de as trazer para os meus sonhos vagos e alucinantes. Não sou arrumada, nem gosto de limpar mesmo quando novelos de cotão se juntam atrás das portas. Sou preguiçosa. Consigo passar horas a fio na cama ou no sofá a passar o tempo e invento para mim as mais farrapadas desculpas para não fazer algo a que poderei ser obrigada a fazer. Masco pastilha de boca aberta, porque preciso do orifício atrás da língua para poder passar o ar. Sou sensível, consigo chorar em qualquer altura do dia. Não gosto de falar para grandes multidões. Prefiro ficar a olhar para os gestos e reacções que as pessoas têm quando me vêm. Adoro ver pessoas, e imaginar a vida que essas pessoas podem estar a ter. Sou boa a defini-las. E aquilo que faz uma pessoa interessante é o que ela viveu, não o que ela é.No geral não gosto de falar, é um desafio criar conversa com alguém que acabei de conhecer ou mesmo com alguém que conheço há mais do que cinco minutos. Dizem que quando conhecemos bem uma pessoa, quando estamos bem com essa pessoa, é porque conseguimos estar muito tempo em silêncio sem isso parecer constrangedor. E eu acredito nessa teoria. Prefiro ficar calada a falar sobre o tempo ou sobre temas gerais que nada importam e que não vão fazer mudar a minha opinião sobre alguém que acabo de conhecer. Não gosto de touradas e não consigo cozinhar carne que pareça carne, peixe que pareça peixe. Prefiro ficar na ignorância do que aperceber-me de que estou a comer algo que já foi vivo antes e que foi morto para que eu pudesse receber amigos para um jantar na minha casa. Não tenho muitos amigos, mas os que tenho são meus até eu deixar de existir. Tenho uma família estranha, que abafa problemas e dramas, e com a qual não me identifico. Mas sofro por eles quando tenho de sofrer. Preciso de me embrenhar em programas culturais, tal como às vezes preciso de espirrar para expelir algo que me está a incomodar o nariz. Não gosto de política. Não do conteúdo que se discute porque se não tivesse interesse não tinha tirado um curso de gestão, mas sim das discussões aborrecidas de pessoas enlouquecidas pela posse de poder que ocupam a actualidade nacional. Prefiro ver programas de viagens pelos quais sou apaixonada ou filmes e séries com pontuação superior a sete no imdb. Não tenho nenhum ídolo, mas tenho algumas pessoas que respeito. Não dou demasiada importância ao trabalho, porque para mim é apenas uma fonte de rendimento para poder fazer as coisas que realmente me dão prazer. Se tivesse de escolher entre pessoas e trabalho, o último nunca seria uma opção. Não sou praticante de nenhuma religião. Não creio em ninguém para guiar a minha existência e a minha forma de pensar. Porque eu defini a minha. Eu sou quem eu sou.

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