sábado, dezembro 29, 2007

Sonhos...

Frequentemente. Vivo novamente. A casa que jaz junto ao cruzamento e que um dia foi transformada noutro corpo. A casa de banho que começava e terminava na cozinha. Os quartos onde repousava a máquina de escrever. A lareira quase ou nada utilizada. O búzio. As escadas que se transformavam num escorrega. O palco. As balizas. O quarto sem janela. A lareira. A casa de banho inundada em aranhas. Os coelhos. As galinhas. A casa das bicicletas. Em sonhos. Só em sonhos.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Por vezes cometemos erros que nos perseguem toda a vida. Não lhe chamarei erro, mas sim algo que não fiz e que deveria ter feito. Se tivesse oportunidade para voltar a fazer, faria tudo diferente? Talvez não. Mas então, porque continuo a querer que as coisas fossem diferentes? Este é daqueles sonhos que desejamos que não passem de sonhos. Que não se tornem realidade. Porque a realidade não é aquela que desenhamos no sonho. Quando transpomos o sonho para a realidade, as coisas mudam. Será que continuei a sonhar por muito mais tempo algo que não desejo que se torne realidade?

terça-feira, setembro 25, 2007

Tempos da Faculdade

Já estão a chegar ao fim. Alguém diria uma vez que os tempos da faculdade são os melhores da vida. Começo a acreditar que isso possa ser verdade.
Não mais esquecerei as praxes: as flexões, as danças, a mão dada da Ana com o Samuel, o baptismo, o tribunal a abanar os veteranos, o correr presos em elásticos, a declaração do Eddi. Os jantares do Team Areias: o "eu não soy marinheiro", "ouvi ladrar", a ana a falar ao telemóvel na casa de banho dos homens, o grito a meio da rua, as fotografias, o "you cross the street and then go, go, go....", o "if you are drunk you say feira, if you are not drunk you say feira". A canção das isabéis composta numa aula de tratamento de dados. O dormir nas aulas da Sonia Dahab. As aulas do Manuel Baganha com bolas de berlim que me davam desejos. O medir no elevador. As pontuações às pessoas que passavam. O cortar na casaca do pessoal da turma. As galas: o "vamos dedicar esta canção à turma", "por favor deixa-me dançar em paz", os abraços. As bebedeiras. Os professores. As jantaradas. As cafezadas. O "mini-erasmus". Os três meses de férias. As horas passadas nas salas de computadores. As horas no bar sem fazer nenhum. A mudança do bar fixe para o bar dos ricos. As visitas à Sotancro, Tagus, Jornal de Notícias, Destak. A viagem de finalistas ao Brasil: a mha buba e a da mary, a "reshisthente", "a maria já anda de gatas", o chuveiro do bidé, o "roubo" da mala da Ana, o bazar sem pagar, o passeio de bugy, o passeio das bananas, os meus pés sensíveis, a decepção do alcatraz. O baile de finalistas. A bênção. Os colegas de grupo.
Tenho a certeza de que me irei sempre recordar destes tempos. Porquê? Porque não desejarei esquecer.

segunda-feira, setembro 24, 2007

A religião

É algo que desprezo. Algo que evaporou na minha mente. Nem sempre foi assim. Pedia à minha mãe para ir à catequese, ia à missa aos domingos de manhã (sempre com a intenção de ir à pastelaria tomar o pequeno-almoço), aprendi o Pai-nosso e o Ave-maria (a muito custo), fiz promessas das quais ainda hoje são difíceis de me separar. Mas isso foi até ao dia em que perdi os meus avós. Aí percebi. De que adiantava rezar? De que me adiantava cumprir as promessas? As coisas acontecem por si próprias. Apenas nós podemos fazer com que elas se realizem. Apenas nós poderemos alcançar o que desejamos. Ninguém pode ter a responsabilidade pelos nossos erros. Ninguém pode ser venerado quando cumprimos os nossos objectivos. Por isso me faz confusão a fé. Principalmente em pessoas que julgo inteligentes. No entanto, respeito. Nem todos podemos pensar da mesma maneira. Nem todos podemos agir da mesma maneira. E ainda bem que assim é. Somos pessoas diferentes. E a diferença é algo que valorizo.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Verão Alentejano

O "bom dia" a toda a gente. As ruas vazias e chamuscadas pelo sol que não deixa descansar a velha vila. O som do grilo e das corujas, que dizem, adivinham mortes próximas.
O sino da igreja que, de quando em vez, anima o quotidiano. Os buracos nas estradas já por si quase sem alcatrão. As festinhas compostas pela bela da tasca e pelo som pimba que convida a dançar. O cheiro nauseabundo devido às descargas na ribeira, que ao fim da tarde, intimidam os seres vivos. As vizinhas que se atropelam por uma novidade. O estacionamento gratuito em qualquer parte da vila. O sossego ao início da tarde. Os bancos da Câmara onde, à sombra, se aninham os idosos. As cobras, abelhas, libelinhas e outros tantos insectos que se atravessam na vida de um transeunte. A água que serve a população inundada em calcário. As escolas vazias. O lar de idosos a abarrotar. O sossego, a brisa quente e a aparente paragem no tempo na qual os escouralenses sobrevivem.

Liberdade

Ser livre é poder fazer aquilo que quisermos fazer, ouvir aquilo que desejamos ouvir, pensar aquilo que devemos pensar, sonhar aquilo que imaginamos sonhar. Existem várias formas de liberdade mas todas elas possuem algo em comum: o verbo poder; este vocábulo, a que tão pouca ou nenhuma importância lhe damos. As fronteiras do "eu posso" não existem, mas o comum dos mortais delimita-o com o "eu não posso". As pessoas julgam-se presas a algo a que não se aprisionam. As pessoas julgam-se livres quando se desprendem de algo a que não estão sujeitas. E quando realmente nada puderem fazer, continuarão sem aceitar a magnitude e complexidade do sentido da palavra "liberdade".

domingo, setembro 09, 2007

Canção das Isabéis


Quando aqui chegámos,
Ficámos a anhar, mas não faz mal,
Conhecemos o Team Areias.
Só depois notaram,
Que éramos as três Isabéis,
Todas Isabéis.
Aos jantares não vamos fugir,
Se houver a sangria,
Mas quem pagam são as fotografias,
Das Isabéis...

Aifos, Sevla, Aneleh,
Lebasi, Lebasi...

Ana, Zu e Lena, numa aula de Tratamento de Dados, 2003

segunda-feira, agosto 06, 2007

Medo

Até hoje ainda não se percebeu a razão. Talvez a estrutura do corpo ou até mesmo a imaginação inquietante. Aliás, acredita-se nisso. Não se crê nos argumentos de alguém, que considera serem coisas de outro mundo. Ainda se consegue lembrar. Mais correctamente, não se consegue esquecer. É difícil precisar quando tudo começou, apenas é possível afirmar que não acabou e provavelmente nunca terminará. Durante uns anos não houve uma noite de paz e sossego. A noite atormentava-lhe. O escuro enfraquecia-lhe. Via pessoas. Via vultos. Sentia-os. Apenas conseguia descansar ao amanhecer ou quando dormia acompanhada. Ao fim de tantos anos, foi delineada uma estratégia: nunca abrir os olhos no escuro. Ainda hoje o faz. Esse hábito entranhou-se no seu modo de vida. Será que era tudo imaginação de uma criança de 4 anos, anoréctica e com convulsões frequentes? Ou será, como “diagnosticou” uma vidente eborense, vingança de pessoas que odiavam a sua família? Só há poucos anos conseguiu descoser a almofada que trazia consigo santas e orações para espantar as pessoas que lhe queriam mal. Durante muitos anos dormiu com essa almofada. Diminuiu, é verdade. Há muitos anos que a sua visão não alcança pessoas na penumbra. Mas o medo, esse continua presente. É expressamente proibido pensar neste assunto antes de adormecer. O seu coração começa a bater muito depressa, e todos os seus sentidos despertam como se estivessem à espera de alguém. Este é um trauma do qual tenho dúvidas se algum dia conseguirá escapar.

segunda-feira, julho 30, 2007

Ready or not

Uma lua iluminando amores impossíveis. Uma sombra sobrevoando amores quase perfeitos. Quando o luar se esvanecer e a sombra se transformar na névoa transparente. Só assim é possível. A sombra numa noite de luar é difícil de sustentar, de se mover, de se fazer ver. Só alcançam a felicidade em separado. É disso que continuava à espera. Mas não posso esperar mais. A sombra é dependente de mim. Só existe se eu quiser. Só sobrevive se eu o permitir. E a lua pode desaparecer. Pode-se camuflar na noite, alheia a tudo e a todos. Pode extinguir tudo aquilo que ilumina como se de cinzas se tratasse. Cinzas. É isso. As cinzas.

quarta-feira, julho 25, 2007

Sou

Sem dúvida a lua tem um papel bastante importante na minha vida. Teve, tem e certamente terá. Sem a sua influência teria o mesmo comportamento diariamente. A minha vida seria muito monótona. Não teria estas oscilações de humor e comportamentais tão características em mim, que por vezes pode criar nas outras pessoas a sensação de que tenho duas faces.
Tudo o que quiserem saber sobre o passado é só perguntarem. Tenho uma memória de elefante. Lembro-me de tudo com todos os pormenores. A minha ligação com o passado é bastante forte. Guardo todas as recordações. Mesmo que possam parecer ridículas. Todos os principais momentos da minha vida estão arquivados algures numa arca. Talvez por isso tenha dificuldade em superar marcas do passado. Porque nunca me desligo dele.
A imaginação alimenta-me o futuro. O meu espírito criativo é notável. Sonho o que já aconteceu, aquilo que ocorre no meu dia-a-dia e o que um dia irá surgir na minha vida. Sonho, sonho, sonho a cada instante. É uma forma de navegar na realidade por uns momentos. Mas por outro lado posso sofrer decepções. Afinal aquilo que tanto sonhei antes de adormecer, não aconteceu e provavelmente nunca haverá oportunidade de se realizar.
Em relação ao presente procuro sempre o conhecimento, a evolução, a perfeição. Talvez por isso não tenho facilidade na vida sentimental. Desejo sempre o ideal.
“Carapaça dura, coração doce”. É difícil que as pessoas me conheçam. Para isso é preciso que eu permita. Utilizo uma espécie de fortaleza que não é fácil de ser ultrapassada. Muito em parte devido à minha desconfiança, e por vezes à minha timidez. Não é qualquer pessoa que me conheça bem. Aliás de todos os amigos que tenho posso listar menos de 5, aqueles que me conheçam na perfeição.
Sou bastante intuitiva, já que utilizo os meus sentidos a 100%. Exploro-os até ao limite. A visão (por vezes distorcida, é certo), a audição e o olfacto, são os mais apurados. Talvez por isso seja muito sensível ao ambiente externo. Tenha dificuldade em controlar as emoções e os sentimentos. Me conceda a mim própria mais tempo para me adaptar a novos ambientes.
Como me costumam dizer “ando sempre de antenas no ar”. Sou bastante atenta. Sei sempre tudo o que se passa à minha volta. Mas de contraste sou uma desorientada. Se me indicarem o caminho de ida, também necessitam de me indicar o de volta. É a melhor maneira de se livrarem de mim. Colocarem-me num local que não conheça e não me dizerem como saio de lá. Não sei porquê. Será porque foco a minha atenção em coisas sem importância? Ou porque nem sequer foco a atenção em lado nenhum?
Um dos meus maiores defeitos é ser preguiçosa. Bastante, para ser sincera. Muitas vezes não faço determinadas coisas só porque não me apetece fazê-las, mesmo que seja importante. Por exemplo, se não tivesse ninguém que me preparasse o jantar, não teria paciência para cozinhar todos os dias. Ou encomendava ou simplesmente não comia.
Orgulhosa e teimosa. Faço todos os possíveis para mostrar que tenho razão naquilo que digo e naquilo que faço. Quando descubro que afinal não tenho razão, nem quero ouvir falar no assunto. Para dar o braço a torcer sou do piorio. Primeiro tenho de exaustivamente me mentalizar que a razão não está do meu lado.
Não sou muito de palavras. Quer dizer quando conheço as pessoas sou uma tagarela. Mas na verdade não se pode dizer que sou uma pessoa extrovertida. E sei que transmito isso para as outras pessoas. Mas que hei-de fazer?
Gosto das pessoas. Gosto da sua cultura. Gosto de fotografia. Jornalismo. Fofocas. Mistério. Noite. Alentejo. Família. Dançar. Cantar. Dormir. Comer. Escrever. Futebol. Ping Pong. Viagens. Pobreza. Ler. Crianças.
Não gosto da religião. Não gosto da mentira. Estereótipos. Racismo. Trabalhos domésticos. Correr. Conduzir. Cremes para isto e para aquilo. Futilidade. Barcos. Arrogância. Médicos.

quarta-feira, junho 27, 2007

Canção célebre

Mesmo ao cimo do montado
no ponto mais elevado
havia um enorme sobreiro.

E de todos era a cobiça
ao dar bolota e cortiça
no montado era o primeiro.

Mas num dia de tempestade
ouviu-se soar na herdade
o ribombar de um trovão.

E no céu uma faixa risca
e uma enorme faísca
fez do sobreiro em carvão.

E agora
no mesmo sítio lá mora
um chaparro altaneiro.

Que em noites de luar
houve o montado a chorar
com saudades do sobreiro.

E é assim a nossa vida
constantemente vivida
quase sempre a trabalhar.

E quando um dia a morte vem
cá deixamos sempre alguém
com saudades a chorar.

terça-feira, junho 26, 2007

Porquê?

"Quem ama de verdade, ama em silêncio, com actos e nunca com palavras."
Ao fim de tantos anos...! Será paranóia?! Estarei a dar em doida?!

sexta-feira, junho 22, 2007

O perfil de compositoras

Vida Alentejana
A vida no Alentejo
é uma injustiça
as pessoas trabalham muito a cortar e a fazer cortiça.
O Inverno no Alentejo
as pessoas fazem a lareira
para assar e comer
a rica farinheira.
Nas quintas do Alentejo
há muitos animais
desde o porco
até aos pardais.
No Alentejo
o sol brilha todo o dia
as crianças brincam muito
com o coração cheio de alegria.
Alentejo saudável!
A criança
A criança quando é bebé
aprende a andar, falar, brincar, dançar, cantar
e a cantar.
A criança quando cresce
às vezes é traquina
parte tudo à sua mãe
e fica só com a Nina (a boneca).
Depois quando é adolescente
anda sempre ocupada
anda sempre a estudar
e depois não faz mais nada.
A criança quando é bebé
aprende a andar, falar, brincar, dançar, cantar
e a cantar.
Depois quando é velhinha
fica sentada no seu cadeirão
a ler o jornal, jornal, jornal.
As crianças pobres
Algumas crianças
são órfãs de pais
não conhecem o mundo
as pessoas e os animais.
São pobres, são pobres
é uma tristeza
não têm comida
é mesmo a pobreza.
Essas crianças não recebem prendas
nos Natais
e mesmo assim
dormem nos olivais.
Não têm comida
não têm animais
não têm ajuda
nem mesmo os pais.
O cavalo
Nós temos um cavalo
que é muito mansinho
gosta muito de brincar
com o seu filhinho.
O nosso cavalo
come muita palha
de dia e de noite
e não nos deixa fazer a malha.
O cavalo é castanho
tinha o rabo preto
e a cor do seu filhinho
era igual à de um cabritinho.
O cavalo era bonito
e era muito forte
um dia apareceu
uma égua que lhe deu a sua sorte.
Por Lena, Laura e Mafalda
Algures em meados da década de 90
Escoural

Re-descoberta

Sinto que voltei a ser eu. As minhas tatuagens lunáticas nunca estiveram tão visíveis, mesmo por baixo da roupa. Deixei de as esconder. As...