segunda-feira, agosto 06, 2007

Medo

Até hoje ainda não se percebeu a razão. Talvez a estrutura do corpo ou até mesmo a imaginação inquietante. Aliás, acredita-se nisso. Não se crê nos argumentos de alguém, que considera serem coisas de outro mundo. Ainda se consegue lembrar. Mais correctamente, não se consegue esquecer. É difícil precisar quando tudo começou, apenas é possível afirmar que não acabou e provavelmente nunca terminará. Durante uns anos não houve uma noite de paz e sossego. A noite atormentava-lhe. O escuro enfraquecia-lhe. Via pessoas. Via vultos. Sentia-os. Apenas conseguia descansar ao amanhecer ou quando dormia acompanhada. Ao fim de tantos anos, foi delineada uma estratégia: nunca abrir os olhos no escuro. Ainda hoje o faz. Esse hábito entranhou-se no seu modo de vida. Será que era tudo imaginação de uma criança de 4 anos, anoréctica e com convulsões frequentes? Ou será, como “diagnosticou” uma vidente eborense, vingança de pessoas que odiavam a sua família? Só há poucos anos conseguiu descoser a almofada que trazia consigo santas e orações para espantar as pessoas que lhe queriam mal. Durante muitos anos dormiu com essa almofada. Diminuiu, é verdade. Há muitos anos que a sua visão não alcança pessoas na penumbra. Mas o medo, esse continua presente. É expressamente proibido pensar neste assunto antes de adormecer. O seu coração começa a bater muito depressa, e todos os seus sentidos despertam como se estivessem à espera de alguém. Este é um trauma do qual tenho dúvidas se algum dia conseguirá escapar.

Re-descoberta

Sinto que voltei a ser eu. As minhas tatuagens lunáticas nunca estiveram tão visíveis, mesmo por baixo da roupa. Deixei de as esconder. As...